domingo, 26 de abril de 2009
Medo
Não pode o poema
circunscrever o medo,
dar-lhe o rosto glorioso
de uma fábula
ou crer intensamente na sua aura.
Nós permanecemos, quando
escurece à nossa volta o frio
do esquecimento
e dura o vento e uma nuvem leve
a separar-se das brumas
nos começa a noite.
Não pode o poema
quase nada. A alguns inspira
uma discreta repugnância.
Outras vezes inclinamo-nos, reverentes, ante os epitáfios
ou demoramo-nos a escutar as grandes chuvas
sobre a terra.
Quem reconhece a poesia, esse frio
intermitente, essa
persistência através da corrupção?
Quase sempre a angústia
instaura a luz por dentro das palavras
e lhes rouba os sentidos.
Quase sempre é o medo
que nos conduz à poesia.
2
Voltando ao medo: as asas
prendem mais do que libertam;
os pássaros percorrem necessariamente
os mesmos caminhos no espaço,
sem possibilidades de variação
que não estejam certas com esse mesmo voo
que sempre descrevem.
Voltando ao medo: o poema
desenha uma elipse em redor da tua voz
e cerca-se de angústia
e ervas bravias — nada mais
pode fazer.
Luis Filipe Castro Mendes, in "A Ilha dos Mortos"
sábado, 25 de abril de 2009
Renascer
Renascer e erguer de novo o espírito
Sobre as planícies verdejantes
Cobertas com lençóis pujantes
De ervas purificadoras que fervidas
Ampliam a essência odorífica
Das nossas vidas
Renascer num lugar sagrado
Onde o triste fado
Não assolasse de novo
A biografia desta impertinente
Odre que remonta mentalmente
Ao primordial remanescente
Renascer e erguer a voz
Contra o obstáculo calculado
Que à muito persegue este triste fado
quarta-feira, 22 de abril de 2009
sábado, 18 de abril de 2009
quarta-feira, 15 de abril de 2009
quinta-feira, 9 de abril de 2009
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